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Impressionante o Salmo 71. Trata-se da “Oração do idoso”. No versículo 9, o fiel está dizendo a Deus: “Não me rejeites no tempo da velhice, não me abandonesquando minhas forças declinam”.
Olha que versículo impressionante: “Tu és, Senhor, minha esperança, tu és minha confiança, Javé, desde a minha juventude”. É deste salmo 71 que vem o tema desta 4ª Jornada Mundial dos Avós e dos Idosos: “Na velhice, não me abandones”. O Papa Francisco, em sua mensagempara esta data, identifica um problema enfrentado pelos idosos, um problema típico de nossa cultura contemporânea profundamente individualista: a solidão.
Aos poucos, vai se esvaziando o ideal de fraternidade, nascido e alimentado no Evangelho. Ali, tomamos contato com a história da formação de um povo em aliança com Deus. Ali, vemos Jesus nos reunindo como a ovelhas dispersas. Ali, alimentamos o sonho de todos chegarmos à unidade em Cristo, um só rebanho e um só pastor.
O mundo hoje nos puxa para outro lado. Não mais o “nós”, mas o “eu”. Não mais esforçar-se para estar em comunhão com os outros, reconhecer a mútua dependência que temos uns dos outros, fortalecer os laços de amizade e companheirismo. A lógica econômica e social em vigor é cada um por si. Ninguém segura na mão de ninguém. Cada um se resolva, como puder. Essa lógica do mundo vai ganhando também expressões religiosas que confirmam o individualismo, que desconhecem a mediação da comunidade, que fazem do relacionamento com Deus um culto intimista arredio à comunidade eclesial.
O primeiro prejuízo dessa mentalidade individualista aparece na família. O ideal de família, comunidade estável de pais e filhos, vai enfraquecendo. Muita gente já resolveu viver sozinho, sozinha, sem família. E outros vivem dentro de casa como hóspedes, prontos para partir, doidos para evadir-se de qualquer relacionamento com pai, mãe e irmãos, e não precisar mais ver a cara de tios e primos.
É assim que a tendência é que o idoso vai ficando cada vez mais sozinho. Muitas vezes, já mora só. E alimenta a ilusão de não precisar de ninguém, cioso(a) de sua independência. Outros vezes, mesmo dentro da casa de algum parente, fica isolado cada vez mais em seu quarto, sem vida social, sem relacionamentos, sem assistência.
A 4ª Jornada Mundial dos Avós e dos Idosos nos dá a oportunidade de olhar para a palavra de Deus e sentir de novo que Deus não nos abandona; que ele esteve sempre presente em nossa vida; que ele estará conosco, sempre. Hora de aprender com aquela jovem Rute que comunicou sua decisão à sua sogra idosa: “Não te abandonarei”. Hora de vivermos a fé em comunhão com os sofredores, os abandonados, os solitários. Hora de multiplicarmos, em nossas comunidades, os gestos de atenção social e pastoral aos idosos.
Pe. João Carlos Ribeiro, sdb