Os anjos são seres espirituais, com escolha livre e conhecimento perfeito e imediato da sua condição, de Deus e da Criação, no momento mesmo em que são criados. Portanto não têm relações familiares, pois sua criação é totalmente individual, e por terem imediatamente conhecimento pleno, devem escolher se obedecerão a Deus de forma definitiva, infinitamente.
A linguagem habitual chama de “anjos” aqueles que optaram por seguir a Deus; e de anjos caídos ou rebeldes, anjos do mal, diabos, demônios, satã, e outros, Lúcifer e os que, como ele, iniquamente rejeitaram o Criador e, por sua própria e irrevogável culpa, decidiram não aceitar jamais o perdão que o Senhor poderia, mesmo a eles, conceder, se quisessem se arrepender.
Os Anjos foram criados por Deus para a Sua Glória e serviço, de várias formas, umas mais diretamente relacionadas ao próprio Senhor e outros mais em relação à Criação. A Igreja ensina que há nove Ordens ou Coros de anjos, dentre os que obedecem à Trindade, organizadas em três hierarquias. Na primeira delas estão os Serafins, Querubins e Tronos; na segunda, as Dominações, Potestades e Virtudes; na terceira, Principados, Arcanjos e Anjos.
Cada hierarquia e ordem tem funções específicas dadas por Deus. A terceira hierarquia inclui os anjos que cumprem as ordens de Deus mais diretamente relativas aos seres humanos; assim os Principados dirigem-se aos reis, dioceses, nações, sendo protetores – e punidores – dos povos. Os anjos cuidam individualmente das pessoas: são os Anjos da Guarda, que Deus quis nos dar como amigos, conselheiros e protetores individuais. E os Arcanjos são mensageiros (significado próprio da palavra “anjos”) de Deus para missões especiais, de grande importância para a Humanidade.
As missões que nos foram transmitidas dos Arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel são diferentes. Os três pertencem ao grupo dos anjos que estão sempre diante do Senhor e têm acesso à Sua Majestade (cf. Tb 12,15), ou seja, sua dignidade é altíssima.
São Miguel é citado tanto no Antigo como no Novo Testamentos; uma interpretação também o identifica como o Arcanjo que precederá o momento imediato da ressurreição no final dos tempos (cf. 1Ts 4,16). O Arcanjo Miguel já era considerado pelos Hebreus como o príncipe dos anjos, chefe supremo do exército celeste, e protetor do povo eleito, símbolo da potente assistência divina para com Israel (cf. Dn 10,13.21;12,1 e Jd 1,9). E Ap 12,7-8 indica que ele combateu com seus anjos diretamente contra satanás e outros demônios, vencendo-o; como o seu nome em Hebraico, Mi-ka-El, significa “Quem como Deus?”, tradicionalmente entende-se que foi esta a expressão que, diante da revolta de Lúcifer contra Deus, Miguel usou ao enfrentá-lo.
Por isso também a Igreja venera São Miguel Arcanjo como seu protetor e defensor, ao longo desta vida e no final dos tempos (cf. Dn 12,1), não só pelo combate como também por ser advogado de defesa das almas acusadas constantemente por satanás (cf. At 12,10). Além de protetor e defensor, ele é conhecido como poderoso intercessor e o Arcanjo do Arrependimento e da Justiça, que irá “pesar as almas” depois da morte; e a Igreja afirma que ele conduz individualmente cada alma dos eleitos para o Céu, após o falecimento do corpo.
São Miguel apareceu na Itália em 490 no Monte Gargano, apresentando-se como protetor e prometendo sua intercessão (“Eu sou Miguel Arcanjo e estou sempre na presença de Deus. Venho habitar este lugar, guardá-lo e provar por meio de um sinal que serei seu vigia e custódio.”). Já a estátua em honra de São Miguel, no topo do Castelo Sant’Angelo, bem próximo do Vaticano, recorda a sua intervenção milagrosa para debelar a peste que assolava Roma em 590.
Em 1884, o Papa Leão XIII teve uma visão horrível, de legiões de demônios atacando a Igreja quase a ponto de destruí-la, e da proteção salvadora de são Miguel; por isso imediatamente compôs uma famosa oração* e a tornou obrigatória após todas as Missas, o que, inexplicavelmente, deixou de ser feito em tempos mais recentes. Depois disso, São João Paulo II, no santuário em Monte Gargano, afirmou em 1987, “…vim venerar e invocar o Arcanjo Miguel, para que proteja e defenda a santa Igreja num momento em que é difícil professar um autêntico testemunho cristão com compromissos e sem acomodações.”
São Miguel Arcanjo é padroeiro da Igreja Católica, sendo inúmeros os santuários, mosteiros, catedrais, etc. A ele dedicados.
São Rafael, cujo nome Hebraico significa “Cura de Deus”, aparece no Antigo Testamento, com enorme destaque, no Livro de Tobias, que, como os livros de Judite e Ester, pertencem ao gênero literário midráxico.
Isto significa que a sua mensagem, verdadeira, é narrada de forma totalmente despreocupa de informações históricas e geográficas exatas, que servem apenas como uma ambientação necessária de suporte ao conteúdo relevante, no caso, de índole espiritual. Neste contexto, Rafael é aquele que conduz a Humanidade no caminho para Deus, intercedendo e agindo ativamente na cura dos seus males físicos e espirituais.
O enredo desta narrativa conta como São Rafael, assumindo a forma humana eu nome de Azarias, acompanhou e guiou Tobias numa perigosa viagem de ida e volta para recuperar um depósito de dinheiro do seu pai, Tobit, que havia ficado cego. Eles partem de Nínive (atualmente Mossul, no Iraque) para Ecbatana, na Média (provavelmente a atual Hamadã, no Irã, e, na narrativa, referente à capital do antigo Império Meda, capturado pelos persas em 550 a.C.).
No caminho, no rio Tigre, Tobias captura um peixe e, sob a orientação do seu companheiro angelical, guarda do animal o coração, o fígado e a bílis. Em Ragues, bem perto de Ecbatana, Azarias insiste para que parem na residência de parentes, onde Tobias conhece e casa com sua prima Sara, antes atormentada pelo demônio, e liberta pela fumaça produzida com o coração e o fígado do peixe. No retorno a Nínive, Tobias cura a cegueira do pai com o bílis do animal. Azarias por fim se revela: “Eu sou Rafael, um dos sete santos Anjos que assistem e têm acesso à majestade do Senhor. (cf. Tb 12,15).”
A missão de São Rafael está associada à guia e à cura das feridas da alma e do corpo, por isso ele é conhecido como “Medicina de Deus”, e é o Padroeiro dos sacerdotes e dos médicos, além de protetor dos viajantes (também os peregrinos desta vida rumo ao Céu), soldados e escoteiros; é tmbém o anjo da Providência, pois forneceu os elementos necessários para as curas de Sara e Tobit.
São Gabriel, cujo nome em Hebraico quer dizer “homem de Deus”, foi o responsável por algumas das mais importantes revelações de Deus aos homens. No Antigo Testamento dirige-se a Daniel para lhe esclarecer o significado de uma visão e para anunciar alguns eventos futuros (cf. Dn 8,15-18; 9,20-27). No Novo Testamento, primeiro anuncia a próxima e milagrosa gravidez de Isabel a seu esposo Zacarias, na concepção de São João Batista (Lc 1,8-20). Porém a sua mais destacada missão é o anúncio feito a Maria (Lc 1,26-38), sobre a Encarnação de Jesus, episódio do qual dependeu Dela a possibilidade da nossa salvação…
São atribuídas por teólogos outras aparições e mensagens de São Gabriel no Novo Testamento, como a explicação a São José de que a gravidez de Maria se dera pelo Espírito Santo (Mt 1,20-23); também seria Gabriel o anjo anunciando o Natal de Jesus aos pastores em Belém, aos reis magos que não retornassem a Herodes, a José que fugisse com a Sagrada Família para o Egito e que depois o enviasse de volta para Nazaré; seria o consolador de Jesus no Monte das Oliveiras e anunciado a Ressurreição de Cristo às mulheres piedosas, no Seu túmulo. Contudo, em nenhuma dessas manifestações está clara e explicitamente o nome de São Miguel.
Principalmente tendo a função de mensageiro, São Miguel Arcanjo é por isso o Patrono das Comunicações e também Padroeiro da Rádio Vaticano.