21 de Setembro – São Mateus

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Levi, filho de Alfeu (Mc 2,14), era galileu, segundo a Tradição, e provavelmente solteiro, uma vez que nenhum dos Evangelhos (isto é, os sinóticos, que mencionam a sua conversão) fazem alusão a que tenha deixado família para seguir a Cristo. Morava em Cafarnaum, uma das cidades mais florescentes da Palestina, à beira do Lago Genesaré, onde Jesus pregou muitas vezes e onde fez muitos milagres.

Levi era rico por causa da profissão que exercia, como cobrador (ou coletor) de impostos para os romanos, intermediados pelo tetrarca (governante) judeu Herodes Antipas. Sua função era ter “comércio público e banco aberto para passar letras de câmbio, expedir mercadorias, arrecadar tributos e passá-los a Roma”. Ou seja, os impostos que os judeus pagavam eram entregues aos conquistadores estrangeiros, implicando em financiar quem os subjugava à força. Por isso tais cobradores, denominados depreciativamente de publicanos (“pecadores públicos”), eram socialmente desprezados como colaboracionistas detestáveis.

Os judeus mais observantes (fariseus) consideravam um absurdo que homens do povo eleito cobrassem tributos para um poder conquistador, e além disso pagão; “o pagamento do tributo ao estrangeiro era um ato ilícito, uma coisa proibida pela Lei, um verdadeiro sacrilégio; e, portanto, o que colaborava com esse sacrilégio fazia uma traição à pátria, associava-se aos ímpios, vendia-se aos gentios, e era mais execrável do que eles. Sua condição só podia comparar-se à dos criminosos e das prostitutas”.

Levi era um notório pecador no entendimento judaico (diferente da concepção católica), isto é, “significava antes uma impureza legal ou por descuido das prescrições farisaicas rituais ou por desempenhar um ofício proibido”. De resto, muitos publicanos eram desonestos e exploravam o povo de forma ilegal, de modo que não havia simpatia por eles. Por outro lado, se os fariseus, especificamente, consideravam os cobradores de impostos como pecadores, a profissão em si era lícita, e os havia judeus praticantes e de boa-fé, como fica claro na resposta de São João Batista aos que lhe perguntaram como fazer para se salvar: ele responde apenas que sendo honestos no trabalho, e não mudando de atividade (cf. Lc 3,12-13).

Não se sabe se Levi era um cobrador honesto ou desonesto antes de seguir a Jesus. Estava sentado no seu posto de cobranças em Cafarnaum, à beira do lago (Mc 2,13-14), onde eram recebidas mercadorias e feitos os pagamentos, e Jesus, vindo de fazer um estrondoso milagre na cura de um paralítico cujos amigos haviam descido do teto para a sala onde Ele estava (Lc 5,17-26), lhe disse: “‘Segue-me!’ E, deixando tudo, ele se levantou e começou a segui-Lo” (Lc cf. 5,27-28).

Vivendo em Cafarnaum, era muito provável que Levi já conhecesse Jesus, ainda antes de converter-se, ao menos por ter Dele ouvido falar, mas se não, a sua conversão instantânea não seria surpreendente, dado o poder de atração que o Senhor tinha sobre os corações, como comenta São Jerônimo sobre esta passagem; e, honesto ou desonesto, é maravilhosa e exemplar a prontidão da sua obediência. Por Cristo, imediatamente deixou, inacabadas, suas tarefas para este mundo, sem recear punições, isto é, por amor a Deus, o único motivo certo, foi capaz de instantaneamente abandonar as atividades mundanas e os respeitos humanos. E a partir daí, nunca voltou atrás, mas permaneceu grato ao Mestre, e perseverou no Seu seguimento.

A medida da gratidão de Levi ao Senhor é indicada imediatamente depois nos Evangelhos, pois O convida para um grande banquete em sua casa, que foi aberta também aos discípulos de Jesus e a outros publicanos e pecadores – o que indica não apenas a consideração e amor ao Mestre mas igualmente a vontade de levar a Ele mais pessoas, numa forma já de confraternização e apostolado… ocasião na qual Jesus certamente os acolheu, e ainda ensinou tanto a fariseus quanto aos discípulos de João Batista (cf. Mt 9,10-17).

A mudança de vida era frequentemente acompanhada, na época e na cultura local, da mudança de nome, e Jesus mesmo renomeou Simão como Pedro (cf. Mt 16,17-18). Uma feliz passagem da “Legenda Áurea” de Jacopo Varazze (biografias de santos, escritas no século XIII) comenta que “‘Levi’ quer dizer ‘retirado’, ‘colocado’, ‘acrescentado’, ‘incorporado’. Ele foi a) retirado de seu posto de cobrança de impostos, b) colocado entre os Apóstolos, c) acrescentado à comunidade dos evangelistas e d) incorporados ao catálogo dos mártires.”; e a “transladação” deste nome foi para “Mateus”, que significa “presente”, “dádiva” ou “dom de Deus”, o que de fato este evangelista passou a ser.

São Mateus acompanhou Jesus por quase todo o período de três anos da Sua vida pública, e certamente empregou os seus antigos bens em boas obras, no auxílio aos pobres e aos discípulos. Foi assim testemunha direta do que depois relatou no seu próprio Evangelho. Aliás, nem Mateus nem Lucas, quando o mencionam nas listas dos Apóstolos, o chamam de “publicano”, mas somente ele mesmo, indicando com humildade como se sabia pecador. Seu nome é apenas citado ainda nos Atos dos Apóstolos, não havendo sobre ele outras notícias nas Escrituras.

Além da sua missão como um dos 12 Apóstolos, sua grandiosa tarefa foi justamente escrever o primeiro dos quatro Evangelhos, de acordo como que havia dito Jesus: “o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse vos ensinará tudo, e vos trará à memória tudo quanto Eu vos disse” (Jo 14,26). Este registro, desejado por Deus para chegar às futuras gerações, era transmitido oralmente nos primeiros anos da Igreja, mas surgiu a necessidade natural – sem se ignorar, desprezar ou esquecer a Tradição – de notas escritas. Mateus escreveu para os cristãos de origem judaica, e por isso o fez em Aramaico, não em Grego, ressaltando para este público específico que Cristo é o verdadeiro Messias, realizando plenamente as promessas e profecias do Antigo Testamento, e oferecendo provas da divindade de Jesus.

O Evangelho de Mateus desde o início foi o mais utilizado, o mais citado e o mais comentado pela Igreja, sendo conhecido por todos os autores cristãos do século I e citado expressamente como de sua autoria pelos principais historiadores dos séculos II e III. É chamado de “Evangelho Católico”, porque traz os textos mais importantes sobre o primado de Pedro (Mt 16,17-19), a jurisdição na Igreja (Mt 18,18) e a missão universal de evangelização de todos os povos (Mt 28, 19-20). Junto aos Salmos de Davi e as Epístolas de São Paulo, são os textos mais lidos na Igreja.

Com a perseguição aos Apóstolos (cf. Jo 16,2), depois da Ascensão de Jesus, estes se dispersaram por várias partes, levando a Palavra de Deus. Parece certo que Mateus foi para a Palestina, mas informações posteriores não são tão claras. São citadas Pérsia, Síria, Macedônia, e a Igreja Copta da Etiópia proclama desde sempre ter sida fundada por São Mateus, mas disso não há comprovação cabal. Uma tradição diz que morreu mártir, porém também não existem confirmações fidedignas. Há relíquias suas na Catedral de Salerno, Itália.

São Mateus é o padroeiro dos banqueiros, alfandegários, contabilistas, cobradores, consultores tributários e da Guardia di Finanza italiana, de modo a favorecer a união do fiel exercício do dever para com o Estado com o fiel seguimento de Cristo, nesta instituição.

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