Cornélio, Papa, e Cipriano, bispo, foram contemporâneos no século III, martirizados no mesmo dia do mês (14 de setembro, atualmente festa da Exaltação da Santa Cruz; dia 15 é a festa de Nossa Senhora das Dores, então a festa destes santos passou para o dia 16), mas com diferença de cinco anos.
Cornélio, de origem romana, foi eleito Papa em 251, após 22 meses de vacância do cargo, por causa da violenta perseguição do imperador Décio aos cristãos (não havia possibilidade de reunião do clero para se fazer uma eleição). Seus dois anos de pontificado foram tumultuados também por problemas internos na Igreja. Realmente, Novato, um mau presbítero africano, fugiu de Cartago para Roma, onde fez amizade com outro sacerdote, e médico, Novaciano, igualmente orgulhoso e interesseiro; Novato enganou três bispos estrangeiros e os convenceu a eleger Novaciano “papa”, opondo-se a Cornélio e provocando um cisma. Este antipapa fomentou uma heresia segundo a qual só pertenciam à Igreja os “puros” (ói kátaroi), negando o perdão para os pecados graves e as segundas núpcias para as pessoas viúvas.
Em paralelo, Cipriano, nascido no ano de 210 em Cartago, norte da África, de família rica e nobre, hábil advogado e retórico, convertido ao Catolicismo em 246, foi logo ordenado sacerdote e consagrado bispo em 249, mesmo ano em que teve que fugir de Cartago por causa da perseguição de Décio. Apoiou a eleição e autoridade do Papa Cornélio, deixando escritos nos quais ressalta suas virtudes e o seu excelente governo na Cátedra de Pedro.
A heresia do novacianismo condenava em especial os numerosos cristãos que, por fraqueza, haviam negado a Fé durante a crudelíssima perseguição de Décio, os chamados lapsi, “caídos”, muitos dos quais, porém, se arrependeram. Verdade é que alguns pretendiam voltar à Igreja sem as devidas penitências, apresentando apenas um certificado de reconciliação conseguido com algum suposto confessor.
Mas Cornélio e Cipriano defenderam o direito de plena reconciliação eclesiástica para aqueles que sinceramente se arrependessem e fizessem as penitências devidas, num sínodo convocado em 251, no qual foi reafirmada a eleição de Cornélio, excomungado Novaciano e anatemizada a sua heresia. Cipriano teve ainda que se opor, com o apoio do Papa Cornélio, a um diácono de Cartago chamado Felicíssimo, que havia conspirado para a eleição de um anti-bispo, Fortunato.
Assim Cornélio e Cipriano se apoiavam mutuamente contra o cisma e a heresia, que tanto em Cartago como em Roma os perseguiam, e à Igreja. Externamente, o novo imperador Galo iniciou a 8a perseguição aos cristãos em 252, durante a qual Cornélio foi exilado em Centumcellae (atual Civitavecchia), aonde foi decapitado em 253. Mais tarde, em 258, na perseguição promovida agora pelo imperador Valeriano, Cipriano foi preso e condenado quando retornou clandestinamente a Cartago; ao receber a sentença de morte por decapitação com espada, respondeu: Deo Gratias (“Graças a Deus”).
São Cipriano deixou numerosos escritos doutrinais, sobre dogma, moral, ascetismo e disciplina eclesiástica, além de 81 cartas, estas obras-primas da literatura latina e importante fonte de informações sobre a vida da Igreja na época.